A pessoa com deficiência: superação e desafios
A
rejeição pela deficiência é uma construção cultural, mas hoje os deficientes
mostram que possuem muito mais habilidades e potencialidades do que faltas.
Conhecemos o Josoaldo
Coelho da Silva e seu guia Laércio Lima da Silva, que
fazem parte do grupo de atletas da Associação
Petrolinense de Atletismo (APA) no seguimento paraolímpico e treinam no Serviço
social da Indústria (SESI) de Petrolina.
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Paratleta josoaldo e atleta guia Laécio nos XVII jogos
paraesporte de Pernambuco em 2013 |
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Equipe do APA, em especial seus treinadores Marciano Barros e Natanael Barros. |
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Treinamento do grupo de paratletas do APA
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A seguir apresenta-se uma
entrevista feita com Josoaldo e atleta guia Laércio da Silva:
1.
Conte-nos
um pouco sobre sua história.
Eu sou Josoaldo Coelho da
Silva. Aos nove anos tive uveíte (uma doença que
compromete a úvea ou uma de suas partes), e em seguida passei por uma
inflamação, apresentei descolamento de retina e fiquei cego do olho esquerdo. Vim
morar em Petrolina aos dezenove anos para treinar e competir, mas por causa de
condições financeiras voltei para minha cidade de origem, Dormentes. Continuei
os treinamentos com os professores me passando por email e telefone os
exercícios. Aos vinte anos tive uveíte no olho direito e fiquei totalmente cego.
Vim para Petrolina buscar tratamento, mas descobri que era irreversível. Continuei
morando em Petrolina para ter aulas no centro de reabilitação visual (CRV). Por
conta que consegui me reabilitar, voltei a treinar e não retornei mais para Dormentes.
Como profissão, tenho o atletismo e não trabalho em outro lugar. Sou casado há
cinco anos e tenho um filho de três anos.
2.
Quais
as barreiras da sociedade para as pessoas com deficiência?
Tem a
questão da mobilidade por conta da acessibilidade nas causadas, infelizmente a
gente encontra muitos obstáculos. O
semáforo que antes tinha sonorização, que ajudava os cegos, foi retirado por
incomodar hospitais e comércios, mas infelizmente não deveria ter tirado e sim
ter diminuído o áudio. E os transportes coletivos, dentro da nossa realidade, poderiam
ser implantados um sistema de alto falante que dissesse os itinerários, isso
facilitaria a vida do deficiente visual. Para o cadeirante, que todos os pontos
fossem nivelados de acordo com a altura do ônibus.
3.
O que
você pensa sobre a deficiência de modo geral?
O bom
seria que ninguém tivesse deficiência, por que aparentemente não haveria uma
limitação na pessoa, mas infelizmente de tudo tem e acontece. A deficiência trás
algo diferente para a pessoa, mas existem recursos para superar essa
deficiência. Uma pessoa que não é deficiente e não tem contanto com alguém que
seja, ao ver algum se superando, acredita se fosse com ela não sabia se
conseguiria, mas os deficientes que buscam se superar com recursos e
informações, passam aceitarem bem e serem tranqüilos. O deficiente que não
busca informação para superar sua deficiência é a pior coisa que existe.
4.
Você
falou que já trabalhava um pouco nessa área do esporte era por laser ou você já
fazia profissionalmente?
Eu
entrei no atletismo por influência da escola, era como brincadeira, onde a
gente treinava uma vez ou duas vezes por semana, não era profissional, mas me
esforçava muito nas competições para obter bons resultados. Como eu já me
interessava muito pelo atletismo, passei a buscar informações para continuar e
foi quando tive contato com os atletas da APA, eu fui bem acolhido. Eu tinha dezenove
anos quando comecei a participar regularmente da APA de segunda a sábado. Aqui
na região participei de várias competições onde fiquei entre os cinco gerais. Por
conta do meu desenvolvimento iria chegar a uma posição ainda mais alta. Em
seguida perdi o outro olho e fiquei cego completamente, mas por está na APA
eles me incentivaram a continuar sendo atleta.
5.
Qual
foi sua primeira competição como profissional?
Minha
primeira corrida foi a de São Cristovão na cidade de Aracajú, era uma prova de
três quilômetros. Meu professor disse que gostou dos resultados e resolveu
investir em mim no seguimento paraolímpico, para competir com pessoas com
deficiência. Depois conhecemos o circuito paraolímpico brasileiro, que é o
campeonato para pessoas com deficiência. E a partir daí sempre consigo terminar
o ano nos três primeiros colocados. Comecei em 2008 e até o memento possuo.
6.
O que
atletismo trouxe para você como pessoa com deficiência, qual sua importância?
O
esporte em geral é importante para nossa saúde. Para mim o atletismo me
integrou melhor na sociedade por que as pessoas me viam apenas como pessoa com
deficiência, e quando consigo vencer uma competição isso é muito gratificante,
as pessoas me parabenizam pelo meu esforço. Na nossa região não tinha nenhum
praticante cego total que fizesse atletismo, por tanto quando surgiu e viam o
cego correndo as pessoas ficaram impressionadas, se perguntando como é que os
cegos correm sem está vendo a pista. Mas graças a Deus tem sim como correr,
usando auxilio do atleta guia. Isso passou a incentivar as demais pessoas com
deficiências e a sociedade viu as inúmeras possibilidades, de fazer várias
coisas. Não é por que ficou deficiente ou nasceu que tem que ficar isolado da
sociedade. Temos sim como participar do esporte, de trabalhar e depende do
querer da pessoa com deficiência. Se quer fazer natação? Consegue. Quer ser
doutor em alguma área? Consegue. Infelizmente a limitação é muito forte, por
conta que as vezes os recursos que precisamos no dia a dia é uma barreiras, mas
o deficiente é capaz. A família, os amigos, não pode dizer que ele não é capaz.
A gente pensa que está cuidando isolando em casa, mas isso pode trazer um
transtorno psicológico, precisamos sair de casa, precisamos de laser.
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1º lugar na edição da corrida da terra da Barragem na cidade de Sobradinho-Ba. |
Mesmo
com todas as dificuldades que o atleta Josoaldo Coelho da Silva enfrentou,
desde a perda dos pais à perda da visão do olho esquerdo aos nove anos e do
olho direito em 2007, não foi suficiente para paralisá-lo. O esporte, que desde
antes da perda da visão já fazia parte da vida dele, permitiu que o mesmo
superasse as perdas e resignificasse a sua existência e forma de enxergar a
vida. Hoje, Josoaldo é conhecido nacionalmente pelas grandes conquistas que
obteve através das competições que participou. Motivo de muita dedicação e amor
ao esporte.
Como resultado do esforço
Josoaldo e seu atleta guia, Laércio Lima da Silva, somam conquistas importantes para suas carreiras, na qual a
baixo se apresenta suas grandes vitórias:
- Campeão
Brasileiro dos 10.000 do circuito loterias caixa 2012.
- CAMPEÃO
DOS 800,1.500 E 5.000 MTS NO OPEN BRAZILIAN ATHLETICS SWIMMING OPEM
CHAMPIONSHIP EM SÃO PAULO.2013
- CAMPEÃO
DOS 1500 MTS NO OPEN BRAZILIAN ATHLETICS SWIMMING OPEM CHAMPIONSHIP EM SÃO
PAULO.2014
- BI-CAMPEÃO
DA MEIA MARATONA TIRADENTES PARA DEFICIENTES VISUAIS-2013/2014
- TRI-CAMPEÃO
DA CORRIDA PADRE CÍCIRO PARA DEFICIENTES VISUAIS-2011/2012/2014
- TRI-CAMPEÃO
DA CORRIDA DO SESC PETROLINA-2012/2013/2014
- VICE-CAMPEÃO
DA CATEGORIA DEFICIENTE VISUAL NA CORRIDA DE SÃO SILVESTRE,SÃO PAULO-SP.
2013
- Medalha
de Bronze nos 1500m – Etapa de Berlim do OPEN IPC – 2014
Fonte:
http://apapetrolina.com.br/paratletas/
Referências:
Associação
de Petrolinese de Atletismo (APA). Disponível
em: http://apapetrolina.com.br/paratletas/. Data de acesso: 17 de junho de
2015.
Amiralian, M. L. Pinto, E. B., Ghirardi, M. I., Lichtig,
I., Masini. E. F., & Pasqualin, L. (2000). Conceituando deficiência.
Revista de saúde Pública. 34(1) 91-103.
O conceito de pessoa com deficiência na
legislação brasileira.Disponível em: http://aliberdadeehazul.com/2012/11/27/o-conceito-de-pessoa-com-deficiencia-na-legislacao-brasileira/.
Data de acesso: 18 de junho de 2015.
Postado
por: Lucicléa Barros, Roxana Soares, Wendell dos Santos.