sexta-feira, 19 de junho de 2015


A pessoa com deficiência: superação e desafios


A rejeição pela deficiência é uma construção cultural, mas hoje os deficientes mostram que possuem muito mais habilidades e potencialidades do que faltas. Conhecemos o Josoaldo Coelho da Silva e seu guia Laércio Lima da Silva, que fazem parte do grupo de atletas da Associação Petrolinense de Atletismo (APA) no seguimento paraolímpico e treinam no Serviço social da Indústria (SESI) de Petrolina.
   Paratleta josoaldo e atleta guia Laécio nos XVII jogos 
paraesporte de Pernambuco em 2013





Equipe do APA, em especial seus treinadores Marciano
 Barros e Natanael Barros. 

       Treinamento do grupo de paratletas do APA


A seguir apresenta-se uma entrevista feita com Josoaldo e atleta guia Laércio da Silva:

1.    Conte-nos um pouco sobre sua história.
Eu sou Josoaldo Coelho da Silva. Aos nove anos tive uveíte (uma doença que compromete a úvea ou uma de suas partes), e em seguida passei por uma inflamação, apresentei descolamento de retina e fiquei cego do olho esquerdo. Vim morar em Petrolina aos dezenove anos para treinar e competir, mas por causa de condições financeiras voltei para minha cidade de origem, Dormentes. Continuei os treinamentos com os professores me passando por email e telefone os exercícios. Aos vinte anos tive uveíte no olho direito e fiquei totalmente cego. Vim para Petrolina buscar tratamento, mas descobri que era irreversível. Continuei morando em Petrolina para ter aulas no centro de reabilitação visual (CRV). Por conta que consegui me reabilitar, voltei a treinar e não retornei mais para Dormentes. Como profissão, tenho o atletismo e não trabalho em outro lugar. Sou casado há cinco anos e tenho um filho de três anos.

2.    Quais as barreiras da sociedade para as pessoas com deficiência?
Tem a questão da mobilidade por conta da acessibilidade nas causadas, infelizmente a gente encontra muitos obstáculos.  O semáforo que antes tinha sonorização, que ajudava os cegos, foi retirado por incomodar hospitais e comércios, mas infelizmente não deveria ter tirado e sim ter diminuído o áudio. E os transportes coletivos, dentro da nossa realidade, poderiam ser implantados um sistema de alto falante que dissesse os itinerários, isso facilitaria a vida do deficiente visual. Para o cadeirante, que todos os pontos fossem nivelados de acordo com a altura do ônibus. 

3.    O que você pensa sobre a deficiência de modo geral?
O bom seria que ninguém tivesse deficiência, por que aparentemente não haveria uma limitação na pessoa, mas infelizmente de tudo tem e acontece. A deficiência trás algo diferente para a pessoa, mas existem recursos para superar essa deficiência. Uma pessoa que não é deficiente e não tem contanto com alguém que seja, ao ver algum se superando, acredita se fosse com ela não sabia se conseguiria, mas os deficientes que buscam se superar com recursos e informações, passam aceitarem bem e serem tranqüilos. O deficiente que não busca informação para superar sua deficiência é a pior coisa que existe.

4.    Você falou que já trabalhava um pouco nessa área do esporte era por laser ou você já fazia profissionalmente?
Eu entrei no atletismo por influência da escola, era como brincadeira, onde a gente treinava uma vez ou duas vezes por semana, não era profissional, mas me esforçava muito nas competições para obter bons resultados. Como eu já me interessava muito pelo atletismo, passei a buscar informações para continuar e foi quando tive contato com os atletas da APA, eu fui bem acolhido. Eu tinha dezenove anos quando comecei a participar regularmente da APA de segunda a sábado. Aqui na região participei de várias competições onde fiquei entre os cinco gerais. Por conta do meu desenvolvimento iria chegar a uma posição ainda mais alta. Em seguida perdi o outro olho e fiquei cego completamente, mas por está na APA eles me incentivaram a continuar sendo atleta.

5.    Qual foi sua primeira competição como profissional?
Minha primeira corrida foi a de São Cristovão na cidade de Aracajú, era uma prova de três quilômetros. Meu professor disse que gostou dos resultados e resolveu investir em mim no seguimento paraolímpico, para competir com pessoas com deficiência. Depois conhecemos o circuito paraolímpico brasileiro, que é o campeonato para pessoas com deficiência. E a partir daí sempre consigo terminar o ano nos três primeiros colocados. Comecei em 2008 e até o memento possuo.

6.    O que atletismo trouxe para você como pessoa com deficiência, qual sua importância?
O esporte em geral é importante para nossa saúde. Para mim o atletismo me integrou melhor na sociedade por que as pessoas me viam apenas como pessoa com deficiência, e quando consigo vencer uma competição isso é muito gratificante, as pessoas me parabenizam pelo meu esforço. Na nossa região não tinha nenhum praticante cego total que fizesse atletismo, por tanto quando surgiu e viam o cego correndo as pessoas ficaram impressionadas, se perguntando como é que os cegos correm sem está vendo a pista. Mas graças a Deus tem sim como correr, usando auxilio do atleta guia. Isso passou a incentivar as demais pessoas com deficiências e a sociedade viu as inúmeras possibilidades, de fazer várias coisas. Não é por que ficou deficiente ou nasceu que tem que ficar isolado da sociedade. Temos sim como participar do esporte, de trabalhar e depende do querer da pessoa com deficiência. Se quer fazer natação? Consegue. Quer ser doutor em alguma área? Consegue. Infelizmente a limitação é muito forte, por conta que as vezes os recursos que precisamos no dia a dia é uma barreiras, mas o deficiente é capaz. A família, os amigos, não pode dizer que ele não é capaz. A gente pensa que está cuidando isolando em casa, mas isso pode trazer um transtorno psicológico, precisamos sair de casa, precisamos de laser.  

1º lugar na edição da corrida da terra da Barragem na cidade de Sobradinho-Ba.
Mesmo com todas as dificuldades que o atleta Josoaldo Coelho da Silva enfrentou, desde a perda dos pais à perda da visão do olho esquerdo aos nove anos e do olho direito em 2007, não foi suficiente para paralisá-lo. O esporte, que desde antes da perda da visão já fazia parte da vida dele, permitiu que o mesmo superasse as perdas e resignificasse a sua existência e forma de enxergar a vida. Hoje, Josoaldo é conhecido nacionalmente pelas grandes conquistas que obteve através das competições que participou. Motivo de muita dedicação e amor ao esporte. 



                  


Como resultado do esforço Josoaldo e seu atleta guia, Laércio Lima da Silva, somam conquistas importantes para suas carreiras, na qual a baixo se apresenta suas grandes vitórias:

  • Campeão Brasileiro dos 10.000 do circuito loterias caixa 2012.
  • CAMPEÃO DOS 800,1.500 E 5.000 MTS NO OPEN BRAZILIAN ATHLETICS SWIMMING OPEM CHAMPIONSHIP EM SÃO PAULO.2013
  • CAMPEÃO DOS 1500 MTS NO OPEN BRAZILIAN ATHLETICS SWIMMING OPEM CHAMPIONSHIP EM SÃO PAULO.2014
  • BI-CAMPEÃO DA MEIA MARATONA TIRADENTES PARA DEFICIENTES VISUAIS-2013/2014
  • TRI-CAMPEÃO DA CORRIDA PADRE CÍCIRO PARA DEFICIENTES VISUAIS-2011/2012/2014
  • TRI-CAMPEÃO DA CORRIDA DO SESC PETROLINA-2012/2013/2014
  • VICE-CAMPEÃO DA CATEGORIA DEFICIENTE VISUAL NA CORRIDA DE SÃO SILVESTRE,SÃO PAULO-SP. 2013
  • Medalha de Bronze nos 1500m – Etapa de Berlim do OPEN IPC – 2014
Fonte: http://apapetrolina.com.br/paratletas/


Referências:
Associação de Petrolinese de Atletismo (APA). Disponível em: http://apapetrolina.com.br/paratletas/. Data de acesso: 17 de junho de 2015.

Amiralian, M. L. Pinto, E. B., Ghirardi, M. I., Lichtig, I., Masini. E. F., & Pasqualin, L. (2000). Conceituando deficiência. Revista de saúde Pública.  34(1) 91-103.

O conceito de pessoa com deficiência na legislação brasileira.Disponível em: http://aliberdadeehazul.com/2012/11/27/o-conceito-de-pessoa-com-deficiencia-na-legislacao-brasileira/. Data de acesso: 18 de junho de 2015.



Postado por: Lucicléa Barros, Roxana Soares, Wendell dos Santos.

Uma Psicologia Deficiente em Lidar com o Diferente



É possível notar que os cursos de graduação em Psicologia estão esquecendo de formar profissionais capacitados para atuar junto a indivíduos imersos na diversidade humana e marcados por especificidades, como aqueles que possuem algum "desfavorecimento" fisiológico e/ou social, que põem em xeque a atuação e o posicionamento engessados do psicólogo que estão sendo construídos no processo formativo desse profissional.

A partir desse cenário foi proposta essa entrevista com Seu Edson, uma pessoa com deficiência física e comprometimento intelectual, e com sua mãe, Dona Geralda. Edson tem 50 anos de idade e ele e sua família são moradores do bairro José e Maria, em Petrolina-PE. Nessa entrevista são tratadas a explicação de Dona Geralda sobre a deficiência do filho, a possibilidade de Edson ter passado por um atendimento psicológico e algumas dificuldades que Edson enfrenta no seu dia a dia. Seu Edson e Dona Geralda representam os sujeitos desfavorecidos em relação às contribuições da Psicologia.








Pode-se observar que, quando a deficiência não é esclarecida para aqueles que convivem com ela, existe um modo de explicação diferenciado para essa condição de vida, como através de crenças religiosas ou místicas. Esse fato influencia na falta de uma prestação de serviço adequada às necessidades do sujeito, o que pode acarretar em consequências negativas na sua vida e em seu processo de desenvolvimento.

Para lidar com as pessoas com deficiência, é necessário que os profissionais de saúde, em especial o psicólogo, se atente para as especificidades do sujeito que se apresenta para ele, com suas limitações e capacidades, como as de natureza linguística, e considere a diversidade de ambientes em que essas pessoas estão inseridas, para que os objetivos traçados sejam alcançados e que haja uma Psicologia destinada a qualquer pessoa que queira e precise ser beneficiada por esse campo de estudo e atuação.    

Para isso, é necessária uma formação que prepare profissionais para atuar em prol de pessoas, sejam elas quais forem, e que estimule os futuros psicólogos a conseguirem estabelecer diálogos com aqueles que fazem uso de outras vias de comunicação, como os sujeitos surdos ou com comprometimento na fala, e com indivíduos que, mesmo detentores da capacidade de oralizar, estão inseridos em ambientes onde a Psicologia ainda é desconhecida ou, quando se faz presente no imaginário das pessoas, encontra-se deturpada, como ocorre no cenário onde a entrevista foi realizada. 

Havendo essa comunicação uma verdadeira Psicologia será constituída, pois não se põe Psicologia em prática sem a participação do outro em um diálogo, onde ambos os envolvidos se entendam e se façam compreender. Será que as condições para que esse cenário ocorra estão acontecendo ou ainda estamos reverberando uma Psicologia que exclui os diferentes e desfavorecidos orgânica e/ou socialmente?    


Postagem: Maria Iane Lima e Rodrigo Carvalho